Minha gravidez não foi planejada. Eu não estava em um relacionamento sólido, não desejava ser mãe e tinha questões de saúde que sempre surgiam como grandes obstáculos quando o assunto era fertilidade. Mas isso tudo é papo pra outra hora. Fato é: eu não planejava ser mãe.
Isto posto, sou categórica ao
afirmar que desde o momento em que decidi seguir com a gestação, eu não medi
esforços para estudar tudo o que precisaria saber sobre gravidez, parto
humanizado baseado em evidências, violência obstétrica, desenvolvimento
infantil, parentalidade consciente, disciplina positiva, enfim, tudo o que
fosse necessário para oferecer as condições mais adequadas possíveis ao ser
humano que estava por vir.
Passei – e ainda passo – incontáveis horas buscando compreender quais
seriam as necessidades do meu bebê durante cada fase de sua vida e como eu
poderia me preparar para supri-las. Estudando os riscos e os benefícios dos
alimentos, dos movimentos, das telas, dos objetos, das atividades. Conhecendo
os pontos favoráveis e discutíveis das práticas relacionadas ao sono, à amamentação,
à introdução alimentar, ao desfralde. Fazendo de tudo para escolher com carinho
as diretrizes que eu adotaria na criação da pessoa que estaria sob minha
responsabilidade desde o momento em que foi concebida. Isso porque quero transformar sua passagem por essa vida em uma jornada de evolução, oferecendo
estabilidade e segurança para que ela consiga lidar com as adversidades e
aproveitar ao máximo a viagem.
Parece um bom plano, né? Pelo
menos para mim. Já para o resto do mundo, aparentemente, nem tanto.
É incrível como as pessoas se
sentem tão confortáveis para opinar em questões que de forma alguma dizem
respeito a elas. Como fazem críticas e julgamentos sem que ninguém tenha
solicitado. E é ainda mais incrível a força brutal com que esse fenômeno ocorre
na maternidade: todo mundo resolve virar especialista no assunto quando se
trata de invalidar uma mãe. Não importa se a pessoa não tem filhos, não convive
com crianças, não trabalha com crianças, nunca leu nada sobre infância – ela
vai encontrar uma forma de se intrometer, e geralmente a pior possível.
Eu não ofereço alimentos com açúcar
adicionado para a minha filha. São incontáveis as vezes em que já escutei alguém
dizer “coitadinha dela!”, “vai passar vontade!”, “dá só um pedacinho!”, “que
maldade com a criança!”, entre outras variações. Por que eu opto por não
oferecer? Porque o consumo precoce desse ingrediente está associado à
incidência de diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares, além de alterar o
paladar e não possuir o valor nutricional que ela necessita. Por que as pessoas
querem que eu ofereça? Porque sim.
Eu sou adepta da cama compartilhada,
o que significa que minha filha dorme comigo durante a noite. Comentários como “ela
vai ficar muito dependente de você”, “criança tem que dormir no próprio quarto
desde pequena”, “você está mimando a sua filha”, “não pode ficar fazendo as
vontades da criança” são bem comuns por aqui. Por que eu escolhi a cama
compartilhada? Porque o bebê precisa de segurança para conseguir regular o
ciclo do sono de maneira natural e para garantir a amamentação noturna em livre
demanda, o que também contribui para a estabilização do sono. Por que as
pessoas querem que eu coloque minha filha em seu próprio quarto? Porque sim.
Agora, percebam como é curioso o
fato de que as pessoas que insistem em contrariar minha decisão de não oferecer
açúcar para minha filha, argumentando que “ela vai passar vontade”, são as
mesmíssimas pessoas que também insistem em contrariar minha decisão de fazer a
cama compartilhada, argumentando que “você não pode fazer as vontades dela”.
Isso pode soar contraditório à primeira vista, mas a verdade é que faz todo o
sentido.
Veja bem: se pensarmos apenas na
argumentação apresentada (fazer ou não fazer as vontades da criança), parece
que algo de errado não está certo. Afinal de contas, uma afirmação anula
completamente a outra. Entretanto, se analisarmos a intenção por trás dos
argumentos (contrariar minha decisão), percebemos que ambos vão de encontro ao
mesmo objetivo: colocar aquela mãe em xeque e criticar todas as suas escolhas,
nem que para isso seja necessário contradizer a si mesmo. Se não puder ajudar,
atrapalhe – o importante é participar.